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domingo, 23 de dezembro de 2012

Mercado de blindados mira cidades fora do eixo Rio-SP


País é líder mundial no setor, com 70 811 veículos blindados em circulação. Expansão do setor chegou ao Norte e Nordeste, e agências investem em blindagem para a classe C

Kamila Hage
Serviço de blindagem de automóveis em fábrica paulista
Serviço de blindagem de automóveis em fábrica paulista (Divulgação)
O Brasil é líder mundial no setor dos carros blindados, com 70 811 automóveis protegidos, segundo a Associação Brasileira de Blindagem (Abrablin). Só nos primeiros seis meses de 2012 foram modificados 4.275 veículos. A novidade é que o mercado, que se consolidou no Rio de Janeiro e em São Paulo durante a década de 1990, está se expandindo agora para outros estados que têm índices crescentes de criminalidade, como Pernambuco e Pará. Ao mesmo tempo, o serviço passa por um momento de popularização. Em busca das classes B e C, as empresas começaram a oferecer níveis de blindagem mais baratos.
Descentralização – Pela primeira vez, o levantamento da Abrablin, feito de seis em seis meses, apontou produção de blindados fora do eixo Rio-São Paulo. São Paulo, por seu peso econômico e demográfico, segue disparado na primeira colocação, respondendo por 70% da produção de blindados. Por razões semelhantes, o Rio vem em segundo lugar, com 12% do mercado. Contudo, essa concentração tende a cair com o passar dos anos. Pernambuco ocupa hoje o terceiro lugar no ranking brasileiro de blindagem, com 4% do mercado, seguido pelo Pará, com 3%, e pelo Paraná, com 2%.
Em primeiro lugar, segundo o estudo “Mapa da Violência”, desenvolvido pelo Instituto Sangari com informações dos ministérios da Saúde e da Justiça, as estatísticas paulistas e fluminenses de latrocínios e homicídios mostraram retração entre 2000 e 2010 de, respectivamente, de 67% e 48%. Enquanto isso, no Pará, por exemplo, houve aumento de 253%; no Maranhão, de 269%; e na Bahia, de 303%. Entre as regiões brasileiras, o Sudeste foi a única a ter queda nestes indicadores, enquanto as outras quatro mostraram crescimento, sobretudo o Norte e o Nordeste. Pará e Pernambuco ocupam, respectivamente, a terceira e a quarta posições na lista dos estados com maior número de homicídios, segundo o "Mapa da Violência". Paraná está em nono lugar.
Fábio de Mello, responsável pela análise de mercado da empresa Concept Blindagens, uma das maiores do Brasil, explica que a marca investe em regiões com alto índice de criminalidade, uma vez que o potencial de clientes nesses locais é maior.  “As pessoas sempre estão em busca de segurança”, diz. Contudo, ele diz que o crescimento do mercado de blindados nesses estados – Pernambuco, Pará e Paraná – está ligado também à melhoria econômica e ao modismo. “As pessoas se baseiam muito na opinião dos parentes e conhecidos que usam o blindado e aprovam”, explica.
Jorge Lordello, especialista em segurança pública e privada, concorda com Fábio. “Quando uma pessoa compra, acontece o efeito cascata”, diz. “Pernambuco tem altos índices criminais. Assim, a camada social que pode ter acaba comprando.” 
o mercado de blindados no Brasil
Populares – Os veículos blindados atravessam também um momento de popularização, o que significa que, em média, os preços têm diminuído com o passar dos anos. Até 2002, por exemplo, o serviço era avaliado em dólares por causa do expressivo volume de componentes estrangeiros que utilizava e que o encarecia. Desde então, as empresas brasileiras desenvolveram tecnologia própria e a blindagem mais comum no país – a do tipo III-A, que defende o veículo de todas as armas de cano curto e submetralhadoras – passou de 60 000 dólares (mais de 120 000 reais) para 46 650 reais, em média.
O valor segue elevado para o padrão de renda do brasileiro. Contudo, na tentativa de expandir seu mercado e atingir as classes B e C, as companhias já oferecem níveis de blindagem ainda mais baratos, como o II-A e o II. Ambos protegem o carro contra armas de cano curto e podem custar menos de 20 000 reais. “As pessoas, muitas vezes, economizam no valor do carro para poder blindá-lo”, afirma Christian Conde, presidente da Abrablin. 
Ele lembra que outro fator que ajuda na popularização desses veículos é o maior número de parcelas oferecidas pelas empresas no financiamento da blindagem – uma consequência do amadurecimento do mercado de crédito doméstico e da redução das taxas de juros. O serviço, que no passado só podia ser dividido apenas em duas vezes (50% de entrada e 50% na entrega do veículo), agora conta com linhas de crédito com prazos de 30 meses.

Como funciona a blindagem no Brasil

Para proteger um veículo (vidros, lataria e pneus), o interessado deve antes pedir autorização ao Exército Brasileiro – órgão regulador do serviço no Brasil e responsável pela fiscalização das empresas. O documento, que custa de 250 a 500 reais, leva alguns dias para sair e tem como requisito básico a apresentação do atestado de antecedentes criminais. Pessoas com a ficha suja não podem adquirir a licença. 
A blindagem no país é dividida em seis níveis, mas 90% do mercado brasileiro usa o III-A. Acima deste nível está o III, que oferece proteção a alguns tipos de fuzil. Ele representa apenas 5% do mercado e tem autorização restrita. “Nesse caso, o Exército vai perguntar os motivos para tal proteção”, explica Christian Conde, presidente da Associação Brasileira de Blindagem (Abrablin). O mais potente é o nível IV, que protege o veículo de todas as armas, além de granadas e munições específicas para furar blindagem. A categoria, contudo, não é permitida para civis. 
Depois de efetuada a blindagem, o contratante deve levar o veículo para passar por uma revisão no Departamento Estadual de Trânsito (Detran), com a finalidade de regularizar o documento do automóvel.  Conde alerta: “Sem esse processo, o carro pode ser apreendido em uma eventual blitz policial”. A análise do Detran também verificará se a empresa que efetuou o serviço realmente usou os itens declarados no veículo. Esse processo evita que algumas companhias mal-intencionadas vendam um nível de blindagem e instalem outro menos eficaz.  
Conde ressalta que a proteção de um veículo blindado não exclui cuidados do usuário. Ele deve sempre estar sempre atento no momento em que entra ou sai do carro. Também é indicado que mantenha certa distância de outros veículos para não ser vítima de uma emboscada com, por exemplo, uma rajada de tiros. Nesse caso, até mesmo o nível III-A pode ser perfurado.
Fonte: Veja Online

terça-feira, 10 de julho de 2012

SAIBA MAIS SOBRE O LEVANTE POPULAR DA CABANAGEM


A miséria e a submissão imposta pelo Império levaram às armas a população de Belém. Um dos maiores levantes do período, a Cabanagem transformou servos em senhores

Texto Fred Linardi / Ilustrações Carlos Caminha | 23/05/2012 19h1
Era noite de festa de Reis no Brasil Império e o povo de Belém festejava ao luar. Autoridades portuguesas e famílias poderosas brindavam na noite de gala do Teatro da Providência. Do lado de fora, estava armado o palco de uma guerra anunciada. No dia 6 de janeiro de 1835, aproveitando a distração geral pela data santa, mais de 1 000 guerrilheiros empunhando espingardas, mosquetões, foices, terçados e espadas se escondiam nas matas ao redor da cidade, cortada por igarapés. Moradores de Belém misturavam-se a combatentes vindos do interior. Chegaram à capital no começo do ano e já planejavam o ataque.

À saída do teatro, o presidente da província, Bernardo Lobo de Souza, foi para a casa da amante. Demorou a perceber o caos na cidade. Esgueirando-se pelos quintais, de casa em casa, conseguiu ficar escondido até o início do outro dia. Quando saiu à rua, foi morto à bala por um índio tapuio. Caiu em frente ao palácio do governo, tomado pelos cabanos durante a madrugada. Comerciantes, fazendeiros e intelectuais apartados das decisões na província lideraram a ofensiva dos tapuios (índios que abandonaram suas tribos), negros escravos e libertos, mamelucos, cafuzos, mulatos, mestiços e também brancos. Entre tantas origens diferentes da massa que surpreendeu os soldados aliados à Regência, uma característica comum batizou a revolta. Muito pobres e explorados na economia extrativista da região, os rebeldes moravam em cabanas simples de barro, cobertas de palha. A Cabanagem (1835-40) combateu o domínio do Império e da elite portuguesa local, acostumada aos privilégios coloniais. A população buscava melhores condições de vida e reclamava da tirania do governo do Grão-Pará, imposto pelo poder central no Rio de Janeiro. Não foi difícil para um grupo de proprietários e religiosos cooptar os mais necessitados sob a bandeira da luta pela autonomia da província. Mais próxima de Lisboa do que do Sudeste, Belém resistiu a aderir ao Brasil independente. Não aceitava as ordens vindas da nova capital do Império, o Rio. A instabilidade política se arrastava havia vários anos.

A revolta estourou depois da morte do cônego João Batista Campos. Ameaçado após sucessivas brigas públicas com Bernardo Lobo de Souza, ele fugiu da cidade no fim de 1834. Uma infecção no rosto provocada por um acidente com uma lâmina de barbear matou o religioso enquanto ele estava foragido. Para os cabanos, a culpa era do presidente.

Há quem compare a tomada do palácio do governo pelos cabanos à Queda da Bastilha, marco da Revolução Francesa na Paris de 1789. Era grande a presença de estrangeiros na região. A França costumava exilar prisioneiros contrários ao regime vigente na vizinha Guiana Francesa. No livro A Miserável Revolução das Classes Infames, o historiador Décio Freitas relata o testemunho de Jean-Jacques Berthier, um exilado francês que vai a Belém e se une ao movimento. "Na época havia, sim, um temor do Império quanto à aproximação das camadas populares, principalmente dos escravos e índios, com os franceses. Mas a Revolução Francesa saiu vitoriosa, enquanto o triunfo da Cabanagem está mais na memória", diz Eliana Ferreira, historiadora e pesquisadora na Universidade Federal do Pará.

A partir de Belém, os rebeldes conseguiram manter o controle da província por pouco mais de um ano.

Intrigas e traições entre os líderes causaram tanto prejuízo quanto as tropas inimigas. O governo cabano nasceu de uma culminância de movimentos formados ao longo dos anos anteriores. Os vários setores que se juntaram ao levante fizeram sua força, mas não demorou para que as divergências aparecessem. O primeiro presidente indicado, Félix Malcher, simpático ao Império, foi chamado de traidor e assassinado em meio à disputa de poder com o comandante de armas, Antônio Vinagre. O cadáver foi arrastado pelas ruas, a exemplo do que acontecera com Bernardo Lobo de Souza. Antes de completar 45 dias o governo cabano já tinha um novo chefe: Francisco Vinagre, irmão de Antônio.

Ao todo, três líderes rebeldes presidiram a província. Já na primeira gestão, uma moeda antiga passou a ser reutilizada e só valia no estado. Cabanos se apropriaram de casas de famílias portuguesas ou ligadas ao antigo regime. "Em algumas fazendas, castigaram os senhores com as mesmas torturas que haviam sofrido antes. O porte de arma foi legalizado, o que dava aos cabanos a sensação de realmente pertencerem à cidade. Isso tudo representava uma grande mudança no cotidiano", diz Ferreira. Mas em nenhum momento eles conseguiram consenso em torno de um projeto viável de governo.

Caos

A situação de Belém foi se tornando deplorável. Destruída pelos combates, enfrentou epidemias de varíola, cólera e beribéri. A população passava fome. A cidade ficou cercada por escunas e fragatas ligadas ao Império, onde se instalaram políticos e militares foragidos. O primeiro contra-ataque provocou a fuga dos cabanos para o interior. A ofensiva teve a ajuda do presidente Francisco Vinagre, em outro exemplo dos interesses contraditórios dentro do movimento. Os rebeldes resistiram sob o comando do irmão dele e de Eduardo Angelim. Em pouco tempo eles retomaram a capital e, aos 21 anos, Angelim assumiu o poder. Último presidente cabano, foi derrotado nove meses depois pela poderosa esquadra do brigadeiro Francisco José Soares de Andrea.

Angelim fugiu novamente da cidade, mas foi capturado e deportado. A violenta caça aos cabanos pela Amazônia prosseguiu até 1840. "Nesse período, a Cabanagem continua de forma que ainda não se sabe ao certo. Havia fortes lideranças em cidades como Vigia e Santarém, mas os estudos precisam ser aprofundados", afirma Ferreira. Mais de 30 mil rebeldes foram executados, um terço dos habitantes da província. A tortura era comum. Militares exibiam colares feitos com orelhas secas de cabanos.

No fim da revolta, Belém só tinha mulheres, crianças e idosos. A participação feminina nas conspirações e combates é foco de estudos recentes. Muitas mulheres foram atacadas e violentadas, do lado cabano e das famílias ligadas à Regência. Não há provas de que elas tenham participado das frentes de batalha, mas é certo que atuaram nos bastidores. "Um dos exemplos é a dona Bárbara, uma viúva de militar que foi até a corveta Defensora munida de moedas de ouro. O navio abrigava presos políticos." Eliana Ferreira sugere que ela tenha tentado comprar a liberdade de rebeldes. Parte do trabalho de troca de informações e suprimento de comida para os cabanos era feita por mulheres.
Mesmo sangrenta, a Cabanagem (1835-40) foi o mais bem-sucedido levante popular brasileiro.


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Vinte anos de luta

Os antecedentes e os marcos da revolta


1823

Mercenários de dom Pedro I forçam a adesão do Pará ao Império; 256 presos políticos são sufocados com cal.

1833

Instabilidade política continua. Bernardo Lobo de Souza assume a presidência local e persegue rebeldes.

1834

Foragido, morre Batista Campos, um dos líderes da resistência. Grupos se juntam para reagir.

7/1/1835

Cabanos tomam o poder, matam Souza e libertam Félix Malcher. O fazendeiro é indicado presidente.

21/2/1835

Malcher evita confrontar o Império. Chamado de traidor, é assassinado. Vinagre assume.

26/6/1835

Sucessor de Malcher, Francisco Vinagre, alia-se ao Império e renuncia à presidência. Líderes fogem para o interior.

23/8/1835

Cabanos retomam Belém. Eduardo Angelim é o novo presidente. A cidade sofre cada vez mais com a guerra.

13/5/1836

Esquadra do brigadeiro Francisco Andrea obriga cabanos a fugirem. Angelim é preso em outubro.

4/11/1839

É decretado o fim da guerra civil e foragidos são anistiados, mas a caça sangrenta vai até 1840.


Saiba mais


LIVROS

A Miserável Revolução das Classes Infames, Décio Freitas, Record, 2005

O autor analisa a Cabanagem a partir de cartas de Jean-Jacques Berthier, um francês exilado que vai a Belém.

Motins Políticos, Domingos Antônio Raiol, Universidade Federal do Pará, 1970

Escrito no século 19, o estudo de três volumes conta a história do Pará e é o primeiro a dedicar-se à Cabanagem.

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