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terça-feira, 15 de dezembro de 2020

3 AUTORES MARANHENSES QUE VOCÊS DEVEM LER

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Em artigo, Valcke cobra COL e diz que Fifa não aceitará mais atrasos em obras

Getty Images
Em artigo no site da Fifa, Jerôme Valcke afirmou que a Fifa não irá tolerar mais atrasos na Copa 2014
Presente à inauguração da nova Arena Fonte Nova, ocorrida nesta sexta-feira em Salvador, em evento que contou com a presença da presidenta Dilma Rousseff, Jerôme Valcke, secretário-geral da Fifa, não perdeu a chance de dar uma cutucada nos integrantes do COL (Comitê Organizador Local) da Copa do Mundo 2014 . Em artigo publicado no site da entidade, Valcke advertiu que as próximas semanas serão decisivas para os preparativos da Copa das Confederações , que acontece em junho. E avisou: a Fifa não irá tolerar mais atrasos.
"Estaremos no ponto para a Copa das Confederações. mas nem todos os aspectos operacionais estarão a cem por cento. É impossível ter essa expectativa devido ao tempo de preparação reduzido - na maioria dos casos, de menos de dois meses, em vez dos seis meses programados, por causa das concessões que fizemos às cidades", escreveu Valcke, para em seguida, mostrar que não há mais espaço para atrasos.
"Quero reiterar que algo assim não poderá se repetir para a Copa do Mundo, com o que concordaram o Governo Federal, a FIFA e o COL. O prazo para a entrega dos estádios permanece o mesmo e se encerra em dezembro de 2013. Sobre isso, não faremos nenhuma concessão", disse o cartola da Fifa. "Organizar a Copa é um trabalho infinitamente mais complexo e mais exigente do que organizar a Copa das Confederações, que envolve apenas 25% do número total de jogos. Estamos aguardando mais de meio milhão de visitantes estrangeiros em 2014 e um total de mais de três milhões de espectadores reunidos nos 12 estádios. A escala e a magnitude da Copa do Mundo requerem um período de configuração operacional de pelo menos seis meses", completou o dirigente.
No período de preparação do Brasil para receber a Copa 2014, a relação de Valcke com os dirigentes brasileiros sempre foi conturbada. Há cerca de um ano, inconformado com os diversos atrasos nas obras de estádios e de infraestrutura, o secretário-geral da Fifa chegou a dizer que o Brasil precisava levar um "chute no traseiro". A declaração provocou imediata reação do ministro do Esporte, Aldo Rebelo, que chegou a dizer que não reuniria mais com Valcke por causa da declaração. O cartola francês botou panos quentes e se retratou.
Valcke, porém, comemorou a procura pelos ingressos para a Copa das Confederações. "A grande expectativa já transparece com a promissora venda de ingressos. Com dois terços dos bilhetes já vendidos, a edição de 2013 já bateu o recorde de qualquer outra Copa das Confederações da FIFA neste estágio dos preparativos. Tenho certeza de que os brasileiros oferecerão às seleções participantes e aos milhões de telespectadores um espetáculo inesquecível", disse o dirigente.
Fonte: esporte.ig.com.br

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Uma nova mitologia

J. R. R. Tolkien

A época é o começo da década de 1930; o lugar, o escritório de uma casa modesta em Oxford, na Inglaterra. O sujeito sentado na escrivaninha, um professor universitário de meia-idade, está de língua de fora depois de corrigir centenas de provas de uma espécie de Enem britânico daquela época - trabalho braçal e chato, mas indispensável por causa da grana extra que trazia, em especial para alguém com quatro filhos para sustentar. O professor fica até emocionado quando vê que um dos estudantes deixou uma folha inteirinha em branco, permitindo que ele descansasse um pouco. Sabe-se lá o porquê, ele se vê tomado por um impulso irresistível de escrever naquela página uma frase enigmática: "Numa toca no chão, vivia um hobbit".

O resto é história. Na tentativa de "descobrir" que diabos era o tal hobbit, nosso professor, John Ronald Reuel (ou simplesmente J.R.R.) Tolkien, acabaria consolidando um dos universos de ficção mais amados (e lucrativos) da história. Seus livros venderiam centenas de milhões de exemplares no mundo todo, sem falar nos bilhões de dólares abocanhados pelas adaptações de sua obra-prima, O Senhor dos Anéis, para o cinema. E tudo indica que mais bilhões virão por aí com a versão cinematográfica em três partes do livro que surgiu a partir da frase misteriosa, O Hobbit - o primeiro filme chega neste mês.

Até aí, nada que J.K. Rowling (Harry Potter), ou até George R.R. Martin (A Guerra dos Tronos) também não tenham conseguido fazer, certo? De fato, mas é difícil negar que, cifras à parte, Tolkien ocupe uma categoria só dele. E não só pelo fato de ele ter criado, praticamente sozinho, o gênero da fantasia épica (ou a mania de autores desse gênero de usar iniciais para assinar seus livros). Tolkien é único porque nenhum autor, antes ou depois dele, conseguiu reproduzir com tamanha precisão a maneira como funcionam as mitologias "de verdade" (como a grega ou a escandinava).

Quando começou a escrever ficção, nas trincheiras e acampamentos militares da Primeira Guerra Mundial, Tolkien tinha como ambição criar "uma mitologia para a Inglaterra". No fim das contas, ele acabou conseguindo realizar algo bem mais grandioso: uma nova mitologia para o mundo inteiro.

Em certo sentido, Tolkien era o cara perfeito para a tarefa por causa de sua formação peculiar. Como professor na Universidade de Oxford, sua especialidade era a filologia, uma espécie de arqueologia linguística e literária.

Uma das tarefas dos filólogos é entender como as línguas evoluem - explicar, por exemplo, todas as modificações de sons e significados que fizeram uma palavrinha em latim, como tripalium, nome dado a um instrumento de tortura, virar "trabalho" em português.

Como esse exemplo indica, trata-se de um exercício que, além de ajudar muito na hora de criar dicionários e gramáticas, tem relevância direta para entender como as palavras expressam as ideias, as lendas e a história de um povo (no caso, deixa claro como os falantes das línguas latinas tinham sérias reservas quanto a esse negócio de trabalhar...). As descobertas da filologia "não trazem informações apenas sobre palavras, mas, principalmente, sobre as pessoas que as falavam", resume o filólogo britânico Tom Shippey, um dos principais estudiosos da obra de Tolkien, hoje aposentado depois de lecionar em Oxford e nos EUA.

As pesquisas filológicas, que ganharam enorme impulso ao longo do século 19, também permitiram outro tipo de arqueologia: a compreensão cada vez mais precisa de línguas e literaturas muito antigas ou praticamente "perdidas". E aí é que o bicho pegou para Tolkien. Explica-se: graças às técnicas filológicas, que incluem, por exemplo, a comparação de palavras em vários idiomas aparentados e a compreensão de como os sons das palavras tendem a mudar, textos antes difíceis, obscuros ou mesmo ilegíveis passaram a ficar mais claros. Isso lançou luz sobre narrativas antigas que contêm passagens quase impenetráveis para olhos modernos: a Bíblia, os épicos de Homero e - o mais crucial para Tolkien- a literatura medieval do norte da Europa. Ele descobriu esses textos - escritos em línguas como finlandês, islandês antigo, inglês antigo, galês e gótico - entre o fim do que hoje chamaríamos de ensino médio e o começo da faculdade. Acabou levando nota baixa nas disciplinas que cursava originalmente em Oxford (seu objetivo inicial era se especializar em latim e grego) por causa de seu fascínio por essas histórias estreladas por guerreiros orgulhosos, mulheres "belas como elfas", anões vingativos e, de vez em quando, algum dragão e seu tesouro.

Parece familiar, não é? A questão é que a principal característica dessas narrativas medievais que inspiraram Tolkien é o fato de pouquíssimas delas terem sobrevivido, para começo de conversa. No caso da Inglaterra do começo da Idade Média, a história é particularmente séria. Há um único grande poema épico que chegou até nós - Beowulf, a saga de um guerreiro que enfrenta ogros assassinos e um dragão. E só. Enquanto na Islândia algumas histórias ainda falavam sobre deuses (como Odin e Thor) e criaturas sobrenaturais, nada disso ficou preservado em inglês antigo.

Isso acabou deixando em Tolkien uma sensação terrível de vazio cultural, como ele explicou numa carta que enviou a um editor para tentar emplacar um de seus livros. "Desde meus primeiros dias, eu me entristecia com a pobreza de meu próprio e adorado país: ele não tinha histórias suas (ligadas à sua língua e ao seu solo), não da qualidade que eu buscava e achava (como um ingrediente) em lendas de outras terras. Havia lendas gregas e célticas, latinas, germânicas, escandinavas e finlandesas; mas nada inglês, exceto coisas empobrecidas de livros de segunda mão", escreveu ele.

Talvez você esteja se perguntando: e as histórias do rei Arthur e da Távola Redonda, não contam? "Sua naturalização [como lendas inglesas] é imperfeita", argumentou Tolkien. De fato, as lendas arturianas provavelmente tiveram seus começos entre populações celtas, que falavam galês, e que celebravam justamente a luta desses moradores nativos da Grã-Bretanha contra os anglo-saxões - invasores vindos do norte da Alemanha que, na vida real, conquistaram a Grã Bretanha e se tornaram os ancestrais dos ingleses modernos.

Pior ainda, quem realmente popularizou as histórias do rei Arthur foram escritores medievais franceses. E, ao que tudo indica, foi justamente a influência cultural da França que acabou soterrando as lendas e a literatura dos anglo-saxões depois do ano de 1066, quando Guilherme, o Conquistador - duque da Normandia, no norte da França - invadiu e subjugou a Inglaterra. Durante os 300 anos seguintes, a língua e a cultura da elite do país ficaram totalmente afrancesadas, e a memória da cultura anglo-saxã desapareceu - a ponto de até pouco tempo atrás haver dúvidas sobre se houve mesmo uma culturaanglo-saxã na ilha.

Mas Tolkien e outros filólogos da época tinham convicção de que, sim, ela existiu um dia, até porque Beowulf e os outros poucos poemas anteriores a 1066 continham breves alusões a personagens e histórias que apareciam em textos da Alemanha e da Escandinávia. Em seu livro The Road to Middle-earth ("A Estrada para a Terra-média", sem versão em português), Tom Shippey argumenta que a ficção de Tolkien é, em grande medida, uma tentativa de reconstruir esses cacos num conjunto bem organizado, que fizesse sentido e contasse uma grande história mitológica. De fato, é o que o filólogo-escritor parece ter feito, começando com a criação do mundo, no conjunto de textos publicado com o título de O Silmarillion após a morte dele. O perfeccionista Tolkien nunca conseguiu concluí-lo da maneira que desejaria em vida, mas não há dúvidas sobre as intenções do autor para a obra. A principal característica do majestoso mito da criação que inicia o livro é a tentativa de casar figuras parecidas com deuses pagãos com a ideia de que existiria um único Deus com D maiúsculo.

Esse Deus, Eru Ilúvatar, teria criado primeiramente um grupo de seres semelhantes aos anjos bíblicos, mas com um papel bem mais ativo: seriam os responsáveis por colocar em prática o plano divino para o Universo e por governar a Terra em nome do Criador. É claro que o poder acabaria subindo à cabeça de um desses "vices" cósmicos, que se rebela contra Deus. Trata-se de Melkor, a versão tolkieniana do Diabo. Essa figura satânica foi o mestre de Sauron, o vilão de O Senhor dos Anéis. A partir dessa cena inicial, o escopo grandioso da obra se mantém. Um dos motivos pelos quais a saga supera em complexidade todas as demais mitologias é justamente a maneira como autor arquitetou todo o processo de transmissão dessas histórias de uma geração para outra.

O primeiro truque que o filólogo empregou para isso parece loucura: fingir que ele não escreveu os livros, só os traduziu a partir de manuscritos antigos. O Senhor dos Anéis e O Hobbit seriam, pela lógica tolkieniana, apenas a tradução do "Livro Vermelho do Marco Ocidental", manuscrito que reuniria as memórias dos hobbits Bilbo, Frodo e Sam - J.R.R. realmente afirma isso nos prólogos e apêndices dos livros. E a coisa vai mais longe.

Tolkien sabia muito bem como os manuscritos medievais do mundo real englobam várias versões diferentes do mesmo livro, incluindo coisas como erros de ortografia, modificações feitas de propósito pelos escribas, anotações feitas nas margens etc. O escritor tirou partido desses detalhes para resolver uma pequena inconsistência entre O Hobbit, publicado em 1937, e O Senhor dos Anéis, cujo volume 1 saiu em 1954. É que, na primeira edição de O Hobbit, o personagem Gollum - aquele que chama o Anel de "meu Preciosssso" - até que era um sujeito gente fina. Quando propõe ao hobbit Bilbo um duelo de adivinhações, Gollum não só aposta de bom grado o Anel como prêmio pela vitória na disputa como, ao ser derrotado, aceita sem problemas. E até pede desculpas a Bilbo por não poder dar ao hobbit o Anel prometido (Gollum não sabe que, num lance de sorte, Bilbo já tinha pegado o objeto). "Nem sei quantas vezes Gollum implorou o perdão de Bilbo", escreve o narrador do livro. "Ele não parava de dizer: `Sssentimosss muito; nóss não queríamosss trapacear, queríamosss dar a ele nosssso único presente, se ele ganhasssse a competição¿. Ele até se ofereceu para pegar para Bilbo uns peixes suculentos como consolação."

Parece uma maluquice perto do Gollum sombrio dos filmes. É que, nessa versão da história, o Anel era só um artefato mágico - Tolkien ainda não havia decidido que o objeto era o "Um Anel" todo-poderoso do demoníaco Sauron. As edições posteriores de O Hobbit retratam um Gollum torturado pela posse do Anel.

Mas como conciliar as duas versões da história? Fácil: no prólogo de O Senhor dos AnéisTolkien diz que havia variantes do manuscrito escrito por Bilbo. Algumas cópias preservavam a versão "boazinha" da história - que o hobbit, já influenciado pelo Anel, inventou para afirmar que Gollum teria lhe dado o artefato de livre vontade. É o tipo de manipulação ideológica responsável, no mundo real, por versões alteradas de textos da Bíblia, por exemplo.

Outro fator importantíssimo para a ilusão de que os textos da Terra-média são uma mitologia "de verdade", com milhares de anos, e não a criação de um autor único ao longo de algumas décadas, é a maneira cuidadosa como Tolkien reciclava as próprias histórias. O que acontece é que as narrativas mais importantes de sua mitologia possuíam inúmeras versões: algumas mais curtas, outras mais longas, às vezes em prosa, outras vezes na forma de poesia (com centenas de versos). É um processo comum no caso de mitos reais, que eram transmitidos de geração em geração pela tradição oral e acabavam assumindo as formas mais diversas.

Graças a essa gigantesca massa de textos, Tolkien conseguia realizar truques como a citação, em meio à narrativa em prosa de O Senhor dos Anéis, de um "antigo" poema da época de O Silmarillion. Com isso, o leitor acaba tendo a impressão, mesmo que inconscientemente, de que existe uma tradição cultural gigantesca por trás de tudo.

E, claro, nenhum outro autor foi tão longe na viagem mental de criar idiomas para seu mundo fictício. A originalidade dele nesse quesito envolveu, mais uma vez, o rigor da filologia. Em vez de simplesmente inventar o vocabulário e a gramática das cerca de dez línguas de seu mundo, ele começava com um idioma ancestral (o equivalente do latim para o português, o espanhol, o francês e o italiano, digamos) e ia derivando as diversas "línguas-filhas", seguindo regras de mudanças nos sons das palavras já conhecidas no caso de famílias linguísticas de verdade. Um trabalho hercúleo. E único, como define o professor de língua inglesa Michael Drout, do Centro de Estudos Medievais do Wheaton College, nos EUA: "Todas essas qualidades são ímpares, seja entre autores de fantasia, seja em qualquer outro tipo de literatura".

O HOBBIT (LANÇADO EM 1937)
Um grupo de 13 anões liderados por Thorin Escudo-de-Carvalho, herdeiro do reino anão da Montanha Solitária, está em busca de um especialista para invadir o interior da montanha, que fora dominada pelo dragão Smaug. Então convocam o hobbit Bilbo Bolseiro, um sujeito caseiro e nada aventuresco, que acaba sendo arrastado para um mundo de monstros, batalhas e um anel mágico.

A SOCIEDADE DO ANEL (1954)
Na primeira parte de O Senhor dos Anéis, Bilbo e seu herdeiro, Frodo, descobrem que o anel de O Hobbit na verdade é o "Um Anel", no qual foi depositada a maior parte do poder de Sauron, o segundo Senhor do Escuro. O herói Frodo forma a Sociedade do Anel, com seus amigos hobbits e o mago Gandalf, entre outros, para destruir o objeto.

AS DUAS TORRES (1954)
A Sociedade do Anel é atacada por orcs e se separa. Enquanto Frodo parte para tentar destruir o Anel, os outros hobbits do grupo são capturados. Gandalf, o humano Aragorn, o elfo Legolas e o anão Gimli precisam estimular a resistência contra as forças de Sauron. No caminho para os domínios do vilão, Frodo e Sam encontram Gollum, o antigo dono do Anel em O Hobbit, que quer recuperar o artefato.

O RETORNO DO REI (1955)
Na conclusão de O Senhor dos Anéis, os exércitos de Sauron lançam ataques contra as últimas fortalezas da Terra-média que ainda impedem o triunfo do vilão. Aragorn tenta desesperadamente deter a maré da guerra e ganhar tempo para que Frodo e Sam finalmente destruam o Um Anel e aniquilem o poder do Senhor do Escuro de uma vez por todas.

AS AVENTURAS DE TOM BOMBADIL (1962)
Coleção de poemas, alguns já publicados em O Senhor dos Anéis. Dois deles versam sobre Tom Bombadil, misterioso personagem imortal que ajudou os hobbits a sair de sérios apuros na Saga do Anel. Outros poemas falam de monstros míticos ou têm uma pegada existencial. Na introdução, Tolkienafirma que os textos representam uma espécie de cancioneiro popular dos hobbits, editado anos depois dos eventos de O Senhor dos Anéis.

O SILMARILLION (1977)
Conta a criação do mundo de Tolkien e as origens de criaturas como elfos, anões e humanos. A parte principal versa sobre as guerras entre os elfos e o primeiro Senhor do Escuro, Morgoth, na disputa pela posse das Silmarils, joias criadas pelo maior artesão élfico. Também fala sobre a ascensão e queda da ilha de Númenor, a Atlântida de Tolkien, e resume a trama da Saga do Anel sob a perspectiva dos elfos.


O PANTEÃO DE TOLKIEN
HOBBITS
No universo de Tolkien, são um ramo da "raça dos homens", mas com a metade da altura e pés peludos. Gostam da vida simples e bucólica, cultivando a terra e vivendo em tocas.

OS VALAR E OS MAIAR
São espíritos que assumiram forma semelhante à humana para governar o Universo em nome do Criador. Seu rei é Manwë, senhor dos ares.

ELFOS
São a mais antiga das duas raças de seres inteligentes. Imortais, belos e sábios, estão destinados a ceder lugar aos mortais ao longo da história da Terra-média.

HOMENS
Nessa mitologia, os humanos são os "irmãos mais novos" dos elfos. Sua mortalidade é considerada um presente do Criador, e não um castigo.

ANÕES
Criados por Aulë, o ferreiro dos Valar, eles foram "adotados" pelo Criador. Fascinados por pedras preciosas, são atarracados e barbudos (mesmo as mulheres).

ENTS
Os "Pastores das Árvores" são gigantes que guardam as florestas da Terra-média. Extremamente lentos e longevos, estão entre os seres mais antigos do mundo.

ÁGUIAS
Criaturas a serviço do rei dos Valar, Manwë, elas são inteligentes e acompanham do alto o que acontece na Terra-média. Em momentos cruciais, ajudam os bons.

MELKOR / MORGOTH
Originalmente o mais poderoso dos Valar, rebelou-se contra o Criador, consumido pelo desejo de dominar a Terra. Seu apelido, "Morgoth", quer dizer "o Inimigo Escuro".

SAURON
É o vilão de O Senhor dos Anéis. Originalmente um servo de Morgoth, acabou assumindo o papel de seu antigo mestre depois que ele foi derrotado.

DRAGÕES
São resultados de "experimentos" de Morgoth, que colocou espíritos sombrios em corpos de répteis, para servi-lo.

BALROGS
São servos de Morgoth que assumiram formas demoníacas, tornando-se um dos monstros mais temíveis do séquito do Senhor do Escuro.

TROLLS
Foram criados a partir de rochas por Morgoth. Os primeiros trolls eram lentos, estúpidos, mas extremamente ferozes e destrutivos.

ORCS
Essas criaturas horrendas, usadas como soldados de Morgoth e Sauron, surgiram a partir de elfos torturados e desfigurados nos primórdios da Terra-média.


Para saber mais
Languages, Myths and History
Elizabeth Solopova, North Landing Books, 2009


Fonte: Revista Superinteressante, dez./2012

domingo, 30 de dezembro de 2012

Caçada a Lobato

A polêmica começou com uma denúncia apresentada pela Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, do Ministério da Educação, pelo Instituto de Advocacia Racial e Ambiental (Iara) e pelo técnico em gestão de educação, Antonio Gomes da Costa Neto. A ação judicial defende que a obra não deve ser comprada pelo governo nacional para ser distribuída às escolas públicas como integrante do Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE) porque, segundo as regras do próprio programa, as obras selecionadas não devem apresentar “moralismos, preconceitos, estereótipos ou discriminação de qualquer ordem”.

Apesar do parecer inicial favorável, o então ministro da Educação e hoje prefeito eleito de São Paulo, Fernando Haddad, decidiu não aplicar a medida, talvez por ser polêmica em época de eleições municipais. “É uma pena que o Conselho Nacional de Educação (CNE) tenha se submetido à vontade eleitoral do Haddad”, comenta Humberto Adami, advogado e diretor do Iara. Em resposta ao descaso, a ação foi elevada ao Supremo Tribunal Federal. Em setembro, foi realizada uma audiência de conciliação entre as partes, sem sucesso. Agora, o processo aguarda o fim do julgamento do mensalão para entrar na agenda do ministro Luiz Fux. Por ironia, o julgamento será presidido pelo ministro negro Joaquim Barbosa.

A ação judicial trouxe à tona um traço menos conhecido de Lobato e desagradável para seus fãs: sua firme defesa da eugenia, a ciência que supostamente estuda as qualidades raciais. Em cartas trocadas com o amigo Godofredo Rangel, em 1908, o escritor chegou a lamentar a não existência da Ku Klux Klan no Brasil, utiliza o termo “pretalhada inextinguível” e, entre outras coisas, afirma que a escrita “é um processo indireto de fazer eugenia, e os processos indiretos, no Brasil, funcionam muito mais eficientemente”.

“Na época a eugenia era um debate científico. É importante entender Lobato no seu contexto. A crítica atual é extemporânea e burra”, argumenta Vladimir Sacchetta, produtor cultural e biógrafo do escritor. É bom lembrar ainda que, se a Constituição de 1988 passou a considerar racismo um crime inafiançável e imprescritível, as versões da Lei Magna nacional de 1934 e de 1937 apresentavam propostas para a educação relacionadas aos ideais eugênicos, tais como a obrigatoriedade da educação física.

Os comentários racistas do escritor foram publicados na primeira edição do livro A Barca de Gleyre, em 1944. “Mas, graças à sua capacidade de rever posições e pontos de vista, na edição seguinte do mesmo livro Lobato cortou esse trecho. Ele se revia e se editava o tempo todo. Assim como tinha coragem de declarar suas posições, tinha coragem de revê-las”, defende Sacchetta.

Outro exemplo emblemático, aponta o biógrafo, são os três momentos distintos da construção de outro personagem famoso do autor, o Jeca Tatu. Primeiro, o escritor define o caboclo brasileiro como “preguiçoso por determinação genética”; depois de estudar pesquisas na área de saúde, se desculpa com o personagem e lamenta o efeito da esquistossomose sobre a população rural; mais tarde, em fase de namoro com o Partido Comunista Brasileiro, o Jeca Tatu se torna um sem-terra, vítima do latifúndio.

Mal-entendido subentendido

O debate acirrado entre defensores e críticos de Lobato ganhou um viés de combate à censura politicamente correta. Humberto Adami garante que não é essa a intenção da sua iniciativa, apesar de o Iara já ter começado a investir contra outro livro do autor, Negrinha, também integrante da lista do PNBE. “Não queremos censura nem banimento. Queremos que se faça valer a lei do programa; que o livro ganhe uma nota explicativa sobre a incorreção dos termos e a capacitação dos professores. Para nós, a obra pode continuar sendo usada nas escolas, como forma até de se desconstruir o racismo”.


Se for mesmo adotada, a nota explicativa deverá entrar ao lado de outra nota que trata da atual proibição e punição da caça às onças – o leit motiv de uma das histórias do livro Caçadas de Pedrinho. “Chamou a nossa atenção o fato de que a editora tenha feito uma menção sobre a pertinência da questão ambiental sem precisar de ações judiciais. Quando se trata do negro, encontramos resistência.”

Para Paulo Vinicius B. Silva, um dos professores responsáveis pelo Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (Neab) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o politicamente correto, nesse caso, importa menos. A questão mais grave seria a falta de valorização do personagem negro. Um estudo da Universidade do Sul de Santa Catarina, que será divulgado em 2013, mostra o impacto do racismo implícito na autoestima das crianças. “A equipe da Unisul percebeu que os pequenos ficam marcados ao ver imagens dos negros sempre em situação de inferioridade, mesmo nos livros didáticos, como, por exemplo, sendo açoitados”, adianta. Para Silva, a ação na Justiça alvoroçou a opinião pública porque a sociedade brasileira está acostumada à ilusão de se autoconsiderar antirracista. “As questões que expõem como somos uma sociedade racista incomodam muito.”

Já J. Roberto Whitaker Penteado, diretor da Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo (ESPM), autor do livro Os Filhos de Lobato, considera que a herança deixada pelo escritor não passa por aí. Baseado em estudos desenvolvidos em sua tese de mestrado, Penteado afirma que Lobato transmitiu valores mais importantes, como o inconformismo com as ideias dominantes e com os poderes constituídos, o espírito crítico e a importância da iniciativa individual, assim como o valor das escolhas pessoais e da liberdade de expressão, em sentido mais amplo.

“Além disso, ele defendeu, em todas as ocasiões, a inteligência contra a burrice e a abertura intelectual contra a intolerância. Os valores preconizados por Lobato continuarão a ter um imenso valor, depois que nós tivermos morrido, assim como todos os burocratas do MEC e de outras instituições governamentais”, desabafa.

Pontos polémicos

Em Caçadas de Pedrinho, há dois trechos principais que fundamentam a ação judicial. O primeiro é o momento em que a tia Nastácia quer fugir dos animais da floresta: “...esquecida de seus numerosos reumatismos, trepou na árvore que nem uma macaca de carvão”, compara o autor. A espécie a que o autor faz referência aqui responde oficialmente pelo nome monocarvoeiro ou muriqui (Brachyteles arachnoides). O maior primata do Brasil, originário da Mata Atlântica, é, realmente, muito ágil. Curiosamente, seu pêlo corporal é claro, mas ficou famoso porque os índios acreditavam que pintava a cara com carvão.

uma página do conflito de gerações e de mentalidades entre Tia Nastácia e a boneca Emília.

O segundo trecho é um comentário de Emília sobre o perigo da onça feroz solta pelo Sítio: “Não vai escapar ninguém, nem Tia Nastácia, que tem carne preta.” Emília, em outro momento, ainda chama a cozinheira de “negra beiçuda”. A insolência parte de uma boneca caracterizada pela língua solta. A personagem sempre foi conhecida por ser o alter ego do autor. Era uma espécie de porta-voz de todas as coisas que ele tinha vontade de dizer.

Apesar das má-criações da boneca de pano, Tia Nastácia era amada pelas crianças do Sítio do Picapau Amarelo e é protagonista do livro de Lobato, Histórias de Tia Nastácia. “Ela, o Tio Barnabé e o Saci Pererê eram propagadores da cultura e da sabedoria popular brasileiras, numa época em que se lia nas escolas coisas como Porque Me Ufano do Meu País e outras patriotadas”, nota Penteado.

O ponto de vista não é simpático para os olhos de Adami. Para o militante do Iara, faz parte do “racismo cordial brasileiro” o princípio “afetuoso” de que somos todos iguais, contanto que os negros fiquem sempre em lugar subalterno: na cozinha.

Na última história do livro, Tia Nastácia levanta a bandeira da igualdade. Quando quer andar no carrinho puxado pelo rinoceronte Quindim, recém-incorporado à turma do Sítio, a cozinheira diz a Dona Benta: “Agora chegou a minha vez. Negro também é gente, sinhá.” Esse trecho, entretanto, não é citado pela acusação.


Capítulo à parte

Na tentativa de acalmar os ânimos, Ziraldo tomou partido de Monteiro Lobato e, em Fevereiro de 2012, ilustrou a camiseta do bloco carnavalesco Que Merda é Essa? com o escritor abraçado a uma mulata, o que só aumentou as reações contrariadas da comunidade negra. A escritora Ana Maria Gonçalves dirigiu ao artista uma longa carta aberta esmiuçando a posição racista declarada de Lobato e o racismo implícito na comunidade brasileira. No final, assinou “negra, escritora, autora de Um Defeito de Cor”.

A carta, aparentemente, funcionou. Ziraldo pediu desculpas em público e confessou que desconhecia o fato de que Lobato apoiava a eugenia. “Foi uma mudança profunda da postura do Ziraldo. Lobato era um racista confesso. Esse viés do autor não costuma aparecer nem em biografias, mas isso não desmerece a obra dele como um todo”, afirma Adami.

Mais do que questões legais, a polêmica relacionada ao escritor parece ter a ver com a sua aceitação. O pai da literatura infantojuvenil brasileira não era só um vanguardista defensor de ideias profundas como a brasilidade, a natureza e o petróleo nacional. Também ajudou a formar e a educar crianças que antes eram “bichinhos calados”, diz Sacchetta. Deu voz, direito de pensar e senso crítico aos pequenos. Mas não era perfeito. Se as crianças, hoje idosos, adultos ou adolescentes, aprenderam bem terão discernimento para resolver a questão e crescer com o debate.

Fonte: Revista Planeta - Edição 483 - DEZ12/JAN13

terça-feira, 11 de setembro de 2012

STF discute polêmica de racismo em obra de Monteiro Lobato


O Instituto de Advocacia Racial e o técnico em gestão educacional Antônio Gomes da Costa Neto afirmaram que a obra de Lobato possui "elementos racistas" e o STF julgará se os livros podem ser adotados pela rede pública de ensino

Do Portal Terra
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O Supremo Tribunal Federal (STF) vai realizar nesta terça-feira uma audiência de conciliação para discutir a adoção de livros de Monteiro Lobato pela rede pública de ensino. O caso chegou ao STF por meio de um mandado de segurança apresentado pelo Instituto de Advocacia Racial (Iara) e pelo técnico em gestão educacional Antônio Gomes da Costa Neto. Ambos afirmam que a obra de Monteiro Lobato possui "elementos racistas".
 
Em 2010, o Conselho Nacional de Educação (CNE) determinou que a obra "Caçadas de Pedrinho" não fosse mais distribuída às escolas públicas por considerar que ela apresentava conteúdo racista. O conselho apresentava trechos da obra para justificar o veto: "Tia Nastácia, esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou, que nem uma macaca de carvão". Em seguida, o Ministério da Educação (MEC) recomendou que o CNE reconsiderasse a determinação.
 
O conselho decidiu então anular o veto e indicar que as próximas edições do livro viessem acompanhadas de uma nota técnica que instruísse o professor a contextualizar a obra ao momento histórico em que ela foi escrita. Com o mandado de segurança, o Iara pretende anular a última decisão do CNE. Eles pedem ainda a "imediata formação e capacitação de educadores" para que a obra seja utilizada "de forma adequada na educação básica".
 
No mandado de segurança, eles afirmam que o livro "Caçadas de Pedrinho" é utilizado como "paradigma" e que essas regras devem nortear a aquisição, pela rede pública de ensino, de qualquer livro literário ou didático que contenham "qualquer forma de expressão de racismo cultural, institucional e individual". 

Fonte: Istoé Online

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

MPF quer aplicação de multa à Infraero e E.P. Engenharia por não concluírem integralmente a reforma do aeroporto de SL


O Ministério Público Federal no Maranhão (MPF/MA) requereu da Justiça Federal a aplicação de multa à Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) e à E. P. Engenharia, por inaugurarem o terminal de passageiros do Aeroporto Marechal Cunha Machado sem a conclusão integral das obras. Para o MPF, o aeroporto está apto ao embarque e desembarque de passageiros, mas a falta de serviços complementares e a convivência dos usuários com obras ainda não concluídas indicam que a inauguração do terminal foi uma medida precipitada e paliativa, para evitar a aplicação de multa imposta pela Justiça Federal.
O terminal de passageiros do aeroporto de São Luís foi reaberto no dia 27 de agosto de 2012, data limite estabelecida pela Justiça Federal para a conclusão das obras. Após a inauguração, o MPF realizou duas vistorias na área, nos dias 27 e 28, para analisar a situação do aeroporto. A inspeção realizada no dia 28 foi acompanhada por representantes da própria Infraero.
Terminal de passageiros do Aeroporto Marechal Cunha Machado
O MPF constatou que o terminal está funcionando, com partidas e desembarques sendo realizados, mas as obras não foram integralmente concluídas. No relatório elaborado pelo engenheiro civil do MPF foram observadas ainda outras pendências, como: luminárias, tomadas e interruptores mal fixados, forros desalinhados, áreas sem fechamento lateral (placas de PVC), pisos sem rejunte e com peças quebradas e rampas sem sinalização.
Durante a inspeção realizada no dia 28 de agosto, o MPF foi informado de que a administração do aeroporto sequer procedeu ao recebimento dos serviços contratados, apesar de já ter colocado o terminal disponível à população. Isso demonstra que as instalações foram liberadas sem a devida verificação das pendências existentes. Para o MPF, o serviço público prestado pelo aeroporto não está adequado, eficiente e seguro, como estabelece o artigo 22 do Código de Defesa do Consumidor.
O MPF/MA requereu da Justiça Federal a aplicação proporcional de multa à Infraero e E. P. Engenharia no equivalente a 50% do valor original (R$ 30 mil), incidente a partir do dia 27 de agosto de 2012, até que sejam solucionadas as pendências das obras. Requereu também a fixação do prazo de 30 dias para a conclusão dos serviços pendentes, sob pena de multa no valor pleno (R$ 60 mil).
(Ascom/MPF-MA)
Fonte: www.jornalpequeno.com.br

sábado, 4 de agosto de 2012

Presos poderão diminuir pena com horas de leitura


A cada publicação lida, a pena será diminuída em quatro dias. No total, a redução poderá chegar a 48 dias em um ano com a leitura de até 12 livros

Livros na prateleira do ponto de leitura do projeto Ler é Dez Leia Favela da comunidade Caracol, complexo da Penha, no Rio de Janeiro
O detento terá o prazo de 21 a 30 dias para a leitura de uma obra literária (Eduardo Martino/Documentography)
Os presos que se dedicarem à leitura de obra literária, clássica, científica ou filosófica poderão ter as penas, em regime fechado ou semiaberto, reduzidas. A cada publicação lida, a pena será diminuída em quatro dias. No total, a redução poderá chegar a 48 dias em um ano com a leitura de até 12 livros, de acordo com a Portaria 276 do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) publicada nesta sexta-feira no Diário Oficial da União.
De acordo com a Agência Brasil, as normas preveem que o detento terá o prazo de 21 a 30 dias para a leitura de uma obra literária disponibilizada na biblioteca de cada presídio federal. Ao final, terá que elaborar uma resenha que será analisada por uma comissão de especialistas em assistência penitenciária. O participante do projeto contará com oficinas de leitura.
A comissão avaliadora também observará se as resenhas foram copiadas de trabalhos já existentes. Caso sejam consideradas plágio, o preso perderá automaticamente o direito de redução de sua pena.

sábado, 2 de junho de 2012

Eles mostraram a real cara do Brasil ao brasileiro


No centenário de nascimento de Nelson Rodrigues e Jorge Amado, especialistas explicam como obra dos autores influeciaram a cultura do país
Jorge Amado nasceu em 10 de agosto de 1912, na Bahia. Treze dias depois, em Pernambuco, nasce Nelson Rodrigues. Apesar de terem visões políticas totalmente opostas, os escritores tiveram grande importância para a história cultural do Brasil. Rodrigues era anticomunista. Já Amado simpatizava com a esquerda. Mesmo assim, ambos sofreram com a censura em seus trabalhos. Outro ponto em comum entre os dois é a abordagem da sexualidade em suas obras, que renderam tanto a um quanto ao outro o repúdio da elite brasileira. No ano de centenário de nascimento desses brasileiros, especialistas analisam o papel que suas obras têm ainda hoje para o relato do cotidiano e dos costumes do povo à época de seus romances.
Linha do tempo compara trajetória dos dois artistas. (Imagem: Paula Zogbi Possari e Meire Kusumoto)
Dois “Jorges”
Jorge Amado ajudou a difundir a cultura do Brasil no exterior e, por que não dizer, aos próprios brasileiros. Com livros publicados em mais de 50 países e em 49 idiomas diferentes, o baiano tornou-se popular principalmente pelo seu variado repertório de assuntos, como conta a doutoranda Marly D’Amaro Blasques Tooge na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. “Ele toca em questões fundamentais, como relações de trabalho, raça, matrimônio e a estrutura da sociedade capitalista”, diz. O professor de Literatura Brasileira, Antonio Dimas, concorda ao dizer que, “mais que temas, Jorge escolhe gentes muito parecidas com a que ainda vemos no nosso cotidiano, nas esferas mais diversas”.
Jorge é conhecido por caracterizar o povo baiano e as classes sociais mais baixas. Na juventude, muda-se para o Rio de Janeiro para cursar Direito. Ainda na faculdade, toma contato com o movimento comunista, que se reflete em suas obras. “No trabalho dele há muita identificação de uma grande massa. A linguagem é acessível, diferente de outros autores contemporâneos mais rebuscados. Até como comunista, Jorge não escrevia para a elite”, explica Marly.
O escritor chega a ser deputado federal pelo PCB (Partido Comunista Brasileiro), mas é cassado depois que o partido perde o registro, na ditadura do Estado Novo, em 1948. Com as perseguições políticas e as desilusões quanto ao método totalitário que o comunismo tinha adotado, Amado se desvincula do PCB e abandona a militância. Alguns críticos dividem a obra do escritor a partir desse ponto. “Depois disso ele se aproxima muito do candomblé e faz obras dedicadas a mulheres, criando personagens como Gabriela, Tieta, Dona Flor. Mas continua com a temática social”, conta Marly. Para Dimas, “existe um Jorge antes e outro depois” de sua militância. “O melhor é o que vem depois. É um Jorge livre de dogmatismos políticos, menos idealista. Portanto, menos autoritário e menos professoral”, explica. O divisor de águas de seu trabalho, segundo o professor, é Gabriela, Cravo e Canela, romance de 1958. A obra, que virou novela nas décadas de 1960 e 1970, ganhará uma nova montagem na televisão ainda esse ano.
Além de revelar a cultura do Brasil ao exterior, Jorge também colaborou na popularização de temas que eram pouco retratados pelos artistas: o Brasil do interior. “Ele deu [à televisão] um sotaque mais abrangente, deixando claro que o país não se limita apenas aos 8 mil km de litoral. Que ele é mais profundo também”, conclui Dimas.
O teatro pós Nelson
Nelson Rodrigues era mestre em causar reações ambíguas. Em vida, foi considerado gênio e idiota, moralista e tarado. Defendia um estilo próprio de jornalismo, no qual cabiam até algumas mentiras, e alinhou-se à ditadura militar nos anos 70, apesar de ter a obra fortemente censurada.
“Aos cem anos de nascimento, Nelson Rodrigues merece ser lembrado como um autor que revolucionou o texto dramático brasileiro”, afirma Berta Waldman, professora de literatura hebraica e judaica da FFLCH e pesquisadora de Nelson Rodrigues. A peça Vestido de Noiva, encenada pela primeira vez em 1943, é considerada um marco do teatro moderno no país. “Com vergonha de dizer às pessoas que havia escrito a peça em seis dias, Nelson mentia dizendo que havia levado seis meses para escrevê-la”, conta Priscila Melo, jornalista e especialista no autor.
A aclamação no âmbito teatral foi quase imediata: Vestido de Noiva é apenas sua segunda peça. No entanto, atingir o ápice no início da carreira teve seus pontos negativos. De acordo com Berta Waldman, o próprio autor costumava dizer: “Com Vestido de Noiva, conheci o sucesso; com as peças seguintes, perdi-o, para sempre”.
A terceira peça foi Álbum de Família, publicada em 1946. Ela foi encenada cerca de 20 anos depois, por ter sofrido censura. “Sua publicação foi marcada pela reação da crítica que não sabia como se posicionar perante o acumulo de incestos e de relações marcadas pela violência, antagonismo e morte”, conta Paulo Maciel, pesquisador de teoria e história do teatro. “Boa parte da sociedade da época repugnava suas obras literárias, acreditando que estas poderiam instigar as pessoas a terem os mesmos desejos relatados”, completa Priscila Melo.
Censura
Nelson era anticomunista declarado. Usava suas crônicas para debochar da esquerda brasileira e defender o golpe militar de 1964. Apesar disso, foi o autor mais censurado no teatro brasileiro. A acusação era de “representar uma ameaça às famílias, a sua moral e aos bons costumes. Em sua defesa o dramaturgo alegava a burrice dos censores que não percebiam a moralidade de seu ‘teatro desagradável’”, explica Maciel.
Muito além do teatro
Apesar ter sido imortalizado como dramaturgo, Nelson Rodrigues estreou no campo das letras como jornalista, aos 13 anos, no periódico A Manhã, que pertencia a seu pai. Ele teve uma produção significativa em diversos gêneros textuais. “Nelson transitou do jornalismo à crônica, passando pelo conto, pelo teatro, romance, pelas confissões e memórias”, conta Maciel.
Grande parte do estilo do autor vem da época em que foi repórter policial. “Nelson Rodrigues é o único jornalista brasileiro a possuir uma tipologia própria e uma resistência ao ‘novo’ jornalismo objetivo implantado pelos norte-americanos”, afirma Priscila Melo. De acordo com a pesquisadora, Nelson utilizava a subjetividade e até a ficção para relatar um fato. Eram acrescentadas falas no corpo das matérias, sem deixar de usar os elementos referenciais para dar credibilidade à notícia.


Fonte: Jornal do Campus

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